Esse site utiliza cookies
Professores avaliam questões e tema da redação da primeira edição de 2025 do Exato
Mais de 7 mil estudantes fizeram no domingo, dia 19 de maio, as provas da primeira edição de 2025 do Exame de Acesso ao Ensino Superior do Tocantins, o Exato. Pela manhã eles tiveram que responder 20 questões da área de conhecimento "Linguagens, Códigos e suas Tecnologias" e 20 questões da área de conhecimento "Matemática e suas Tecnologias", além de produzir um texto de até 30 linhas para a prova de redação. No turno da tarde foram 20 questões sobre "Ciências Humanas e Suas Tecnologias" e 20 questões sobre "Ciências da Natureza e suas Tecnologias".
O exame, realizado pela Comissão Permanente de Seleção da Universidade Federal do Tocantins (Copese/UFT) desde 2024 para substituir os tradicionais vestibulares, foi aplicado em 14 municípios e habilita os estudantes a participarem de diversos processos seletivos para vagas em cursos de graduação das três instituições federais de ensino superior do estado: além da UFT, a Universidade Federal do Norte do Tocantins (UFNT) e o Instituto Federal do Educação do Tocantins (IFTO) passaram a adotar as notas do Exato como critério de seleção.
Sinária Divina, professora regente e responsável pela gestão da Escola Indígena Ijanari, na Aldeia Taimy, da ilha do Bananal, conta que analisou a prova junto com os alunos e gostou da proposta da avaliação. "Achei que os temas abordados foram bastante pertinentes e atuais, especialmente o tema da redação e da interpretação textual, o que contribui para uma avaliação mais contextualizada", disse ela. "O nível das questões estava equilibrado, com algumas exigindo mais interpretação e raciocínio, o que é positivo. De modo geral, os conteúdos estavam alinhados com o que trabalhamos em sala de aula, inclusive com abordagens que incentivam o pensamento crítico". Segundo ela, a prova do Exato levou os alunos da escola a saírem da aldeia pela primeira vez. "Os estudantes indígenas relataram que gostaram da prova. Mesmo que não alcancem uma pontuação [para classificação nos processos seletivos], serviu para que eles tenham contato com a realidade que terão que enfrentar em outros vestibulares e provas de concurso. Acho muito importante esse tipo de exame para avaliar não só o conteúdo, mas também a forma como estamos conduzindo o processo de ensino-aprendizagem", afirmou.
Assim como Sinária, outros professores elogiaram o tema proposto para a redação que, nem bem foi divulgado após o término do período de sigilo, foi celebrado nas redes sociais, recebendo em poucos minutos centenas de curtidas no perfil do Instagram @acessoexato. Os participantes do Exato tiveram que escrever um texto dissertativo-argumentativo ou uma carta do leitor sobre “Os impactos das tecnologias na inclusão de pessoas com deficiência visual”.
"Foi um tema excelente!", afirmou o professor de redação Igor Leonardo, do perfil @genialvestibulares no Instagram, em um vídeo react. "O termo impacto já é dizendo para você abordar a parte de consequências. Então deve ter um alargamento na sua explicação com bastante consequências, a gente trabalhou muito bem isso. Na nossa turma intensiva a gente abordou três temáticas voltadas para o eixo tecnologia, e caiu o eixo tecnologia no Exato, isso é maravilhoso! Inclusão, igualdade de oportunidade, integração, acessibilidade para essas pessoas que tem cegueira, baixa acuidade visual... é muito interessante vocês abordarem e falarem dos desafios que essas pessoas sentem também, [..] por mais que não tenha a palavra 'desafios' no tema, vocês devem, sim, abordar os desafios que essas pessoas possuem. Uma frase interessante que é muito utilizada e poderia ser colocada na redação para agregar valor como repertório sociocultural na competência [de avaliação] número 2 seria a frase de Hellen Keller, escritora ativista americana e primeira mulher a receber o bacharelado sendo cega e surda. Ela diz que "a tecnologia não deve ser vista como uma solução mágica, mas como uma ferramenta que proporciona autonomia e integração". Então encaixa perfeitamente para essa temática e se você lembrou dessa frase, ficaria perfeito!", comentou ele.
O professor da área de Linguagens e redação, Daniel Lino, dos colégios Nabla, Interação e Tessat Educacional (curso preparatório), também gostou do tema, embora considere que um detalhe pode ter confundido os alunos: "Achei que a palavra 'impactos', mudando um pouco da questão dos desafios, pode ter atrapalhado um pouco o estudante a fazer a redação, mas o tema era bem interessante no sentido de falar da tecnologia num aspecto positivo, já que a gente sempre pensa na tecnologia sob os aspectos negativos, e o tema da redação propunha o contrário, a gente pensar o quão evoluída é a nossa tecnologia e o quanto ela pode contribuir para a cidadania", ponderou.
Com relação à prova de Linguagens, Daniel acredita que as questões cumpriram o papel de avaliar, na parte de Língua Portuguesa, a capacidade do estudante de ler e compreender textos, mas afirma ter ficado decepcionado com as poucas questões de literatura que utilizaram as obras indicadas no edital, um detalhe que também não passou despercebido nos comentários do Instagram. "Achei que poderiam ter ampliado as questões [com referência aos livros indicados] para que se faça jus à leitura dessas obras que muitos alunos se comprometeram em ler e muitos professores trabalharam. Eu acho que é extremamente válida a ideia de colocar essas obras e incentivar a leitura. As obras tinham abordagens extremamente interessantes, mas senti falta disso quando fiz a leitura da prova", comentou.
A Copese justifica que a leitura das obras é sugerida e não obrigatória, e que a indicação feita no edital serve também para fomentar a leitura de textos regionais contemporâneos sem, necessariamente, o objetivo de servir para questões específicas da prova.
Na avaliação geral das questões, Daniel Lino faz um balanço positivo: "A gente ainda precisa melhorar as questões que falam sobre aspectos linguísticos, principalmente quando estão relacionados à construção do texto, valores semânticos, mas é um passo. O Exato é um passo importante que a educação tocantinense dá para que os nossos estudantes, não só da rede particular, mas da rede pública também, possam ingressar no ensino superior federal. E é importante a contextualização que ele tem, as abordagens relacionadas ao Tocantins, mas a gente precisa ter essa atenção em relação às abordagens linguísticas e obras literárias", pontuou.
Na área de Geografia, quem comenta é o professor Leandro Rodrigues "Carreirinha", das escolas Interação, Sesc e do Colégio Militar: "Gostei demais da avaliação do Exato, uma prova bem contextualizada, bem elaborada no aspecto da geografia, abrangendo assuntos regionais, culturais, aspectos naturais também, claro, e sociais [...]". Além do equilíbrio e da diversidade de temas, o professor destaca o regionalismo como um dos pontos fortes da prova que, segundo ele, teve questões de todos os níveis: "Uma questão fácil foi a das quebradeiras de coco, porque unicamente pela interpretação você consegue anular os outros distratores [...]. Agora uma questão intrigante, bem regional e bem típica é a questão da Romaria do padre Josimo, que achei muito legal, porque ela é específica mesmo aqui do Estado. Quem não conhece os aspectos culturais e religiosos aqui do Tocantins não acertaria essa questão, o que vem a levantar um aspecto legal do Exato que é justamente o priorizar o tocantinense [...]", pontuou ele.
Matemática e Natureza
O professor de Química Wagner Soares Alencar, que acompanha os processos seletivos da UFT desde 2019 e tem mais de 20 anos de experiência no magistério, apresentou a resolução de diversas questões no seu perfil do Instagram @professor.alencar. Para ele as questões foram boas e cobraram assuntos bastante pertinentes ao cotidiano, como reações químicas gerando CO2 (um dos maiores poluentes da atualidade), mudança de estados físicos, dureza da água que é uma realidade em muitos lugares e a oxidação causada por ozônio.
Classificando as questões por assunto, ele destacou a ocorrência de três questões sobre reações químicas, duas sobre soluções, uma sobre termoquímica e uma sobre propriedades periódicas, e disse acreditar que a prova poderia ter englobado uma maior diversidade de conteúdos. "Nesse sentido, faltou uma maior distribuição incluindo conteúdos como radioatividade, cinética, meio ambiente (em ano de COP30 no Brasil), estudo dos gases, química orgânica, eletroquímica e ligações químicas", ponderou o professor.
Rafael Barbosa, professor de Física do Colégio Marista de Palmas, disse que resolveu a prova com seus alunos e ficou satisfeito com a avaliação. "A UFT evoluiu demais com relação ao Exato. A primeira edição deixou a desejar em alguns pontos e essa segunda já melhorou muito, muito, principalmente na área das Ciências da Natureza, que é a minha área e engloba Química, Física e Biologia. Na Matemática, mesmo não estando lecionando essa matéria no momento, resolvi as questões e também gostei demais! Acredito que em Matemática a gente vai ter zero questões anuladas, e isso dá muita credibilidade ao exame [...].
Entre as questões de Química e Física ele diz ter dúvidas a respeito de apenas duas questões. "Acho que tem, no máximo, uma questão de Química e outra de Física que poderiam ser passíveis de recurso, mas nem acho que serão anuladas, por sinal", afirmou ele, arrematando de forma otimista: "Acho que o Exato é um grande salto. A gente sai de um vestibular que era muito conteudista e entra para um exame num modelo mais exigente de contextualização e aplicação do conteúdo. A gente agora tá numa prova 'nível Enem', e antes a gente não estava".
O também professor de Física Éder Guimarães, do Federal Preparatório, concorda com a avaliação. "Sem dúvidas o Exato foi uma medida acertada da UFT. Esse processo seletivo aumenta as chances de ingresso do aluno do estado do Tocantins, uma vez que nesse processo a realização da prova ocorre em várias cidades do estado e apenas estudantes que se desloquem para essas cidades podem realizar a prova. O estudante pode concorrer a uma vaga na UFT pelo processo do Exato ou pelo Enem. No entanto, com o Exato há total compromisso com as especificidades da educação básica do estado do Tocantins, contemplando culturas e vivências locais. O candidato aprovado tem a possibilidade de estudar em seu próprio estado e até mesmo na própria cidade que reside, o que é extremamente importante para que haja redução considerável da evasão do ensino superior. Ter uma prova com a 'cara e o jeito' local faz toda a diferença para o estudante do estado. A prova foi bem elaborada, democratizou temas, tornando o processo leve e ao mesmo tempo exigente. Não tenho a menor dúvida que o Exato irá evoluir muito e sempre para melhor!”, disse ele.
Para a professora de Matemática Luana Menta, "o modelo de questões do Exato representa um importante avanço no cenário dos vestibulares no Brasil, principalmente ao ser um exame estadual que acompanha tendências nacionais e internacionais de avaliação, pois, hoje, muitos exames e sistemas educacionais ao redor do mundo vêm adotando esse mesmo perfil de avaliação baseado em resolução de problemas reais, contextualização interdisciplinar, competências e habilidades, mais do que simples memorização de conteúdos". Segundo ela, "preparar-se para o Exato significa ir além de decorar fórmulas; é preciso desenvolver a capacidade de pensar, interpretar e aplicar conhecimentos em situações reais".
Recursos e avaliação
Um indicador que demonstra a qualidade do exame, e o quanto ele evoluiu da primeira edição, realizada em 2024, para a segunda edição (primeira de 2025) é o número de recursos ao gabarito preliminar: desta vez foram protocolados apenas 55 recursos, praticamente a metade do número registrado na de 2024. A Copese ainda está analisando as contestações e o gabarito definitivo deve ser divulgado no dia 30 de maio, conforme o cronograma do edital.
O pró-reitor de Graduação da UFT e coordenador-geral o Exato, Eduardo Cezari, afirma que considera a repercussão desta edição do exame muito positiva, e que a equipe responsável pela elaboração das provas recebe as críticas com tranquilidade. "Esse retorno dos professores que atuam no Ensino Médio, que atuam diretamente com os nossos participantes do Exato, é fundamental para que a gente possa ter um feedback da prova, do formato das questões, das melhorias que a gente precisa implementar, e nos dá um panorama de como tem sido a implementação do Exato como um processo de habilitação dos estudantes para o ensino superior. Isso nos permite também identificar como está a aceitação desse projeto através do trabalho dos nossos colegas professores na preparação dos estudantes para esse processo. Então, nós ficamos muito felizes com os retornos, inclusive com as sugestões para que a gente possa melhorar cada vez mais nos próximos Exatos".