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    De malas prontas para o Reino Unido, mestrando destaca: “o PPGCiamb tem sido um divisor de águas na minha trajetória”
    #TrajetóriasPPGCiamb

    De malas prontas para o Reino Unido, mestrando destaca: “o PPGCiamb tem sido um divisor de águas na minha trajetória”

    Com formação na UFT e foco em justiça socioambiental, Pedro Igor Galvão reflete sobre desigualdades nas cidades e os impactos do mestrado em sua trajetória

    Por  José Eduardo de Azevedo | Edição: Daniel dos Santos  | Publicado em 07/04/2025 - 12:41  | Atualizado em 15/04/2025 - 18:58
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    Com um olhar atento sobre a cidade e suas contradições, o arquiteto e urbanista Pedro Igor Galvão transforma mapas, dados e imagens em instrumentos de denúncia e reflexão. Aluno do mestrado no Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente da Universidade Federal do Tocantins (PPGCiamb/UFT), Pedro tem se destacado por aliar o domínio técnico do geoprocessamento a uma leitura crítica sobre desigualdades socioambientais, urbanas e raciais.

    Natural do Tocantins e com passagens por consultorias, projetos públicos e experiências internacionais, ele compartilha nesta entrevista como o Programa influenciou sua trajetória acadêmica e profissional, além de refletir sobre o papel da ciência na construção de territórios mais justos.

    homem de óculos e barba ministra palestra para outros adultos
    Mestrando do Ciamb vai para o Reino Unido (Foto: Acervo Pessoal/Pedro Igor Galvão)

    Sua dissertação no PPGCiamb, orientada pela professora Lucimara Albieri de Oliveira, investiga como o racismo estrutural se materializa na paisagem urbana de cidades médias brasileiras, utilizando ferramentas técnicas para compreender a persistência de desigualdades históricas. Atualmente, Pedro foi selecionado para um fellowship no Rights Lab, da University of Nottingham (Reino Unido), onde dará continuidade às suas pesquisas sobre justiça socioambiental e cadeias produtivas ilegais.

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    1. Apresente-se e fale sobre sua trajetória profissional

    Meu nome é Pedro Igor Galvão, sou arquiteto e urbanista formado pela Universidade Federal do Tocantins (UFT). Desde o início da graduação, minha curiosidade se voltou à forma como o ambiente construído reflete (e aprofunda) desigualdades históricas, fruto de um passado colonial e de políticas urbanas excludentes. Esse interesse me levou a buscar conhecimentos em Geoprocessamento e Sistemas de Informações Geográficas (SIG), pois percebi que as ferramentas de cartografia digital e análise espacial poderiam tornar visíveis as injustiças espaciais que se naturalizam na paisagem das cidades.

    Já no período de estágio, comecei a colaborar com projetos de Planos Diretores, mapeando regiões de periferia e áreas com maior vulnerabilidade socioambiental. A experiência evidenciou como o planejamento urbano, muitas vezes, ignora as demandas populares e privilegia setores consolidados, reproduzindo uma lógica de concentração fundiária e segregação. A partir daí, passei a aprofundar meus estudos em ecologia política, cartografias críticas e abordagens decoloniais para entender a fundo como a produção do espaço se liga a forças históricas e políticas que cristalizam privilégios.

    Depois de concluir a graduação, ingressei como coordenador técnico na Cerrados Florestal Ltda., onde atuei em diagnósticos ambientais, elaborando estudos de impacto para diferentes empreendimentos. Esse trabalho me possibilitou uma maior vivência de campo e contato com comunidades tradicionais, agricultores familiares e pequenas cidades do interior do Tocantins. Foi ali que visualizei, de forma prática, a necessidade de associar a técnica (geoprocessamento, sensoriamento remoto, levantamentos cartográficos) a uma leitura crítica sobre quem tem voz na definição dos usos do solo e em quais condições a paisagem se transforma — seja pela agroindústria ou por projetos urbanos.

    Em paralelo, iniciei atividades no Instituto de Atenção às Cidades (IAC/UFT), contribuindo para a revisão de Planos Diretores Participativos e para a elaboração de plantas cartográficas que subsidiassem políticas de mobilidade, arborização, habitação e saneamento. Essa vivência reforçou minha convicção de que as cidades não são apenas aglomerados de construções: elas expressam relações de poder históricas, e a forma de ocupá-las está diretamente vinculada às lógicas coloniais de expropriação e exclusão.

    Com essa bagagem, optei por cursar o Mestrado em Ciências do Ambiente (PPGCiamb/UFT).  Minha pesquisa concentra-se na intersecção entre geografia urbana, racismo estrutural e vulnerabilidade socioambiental, analisando especialmente as cidades de porte médio. Nesse percurso, pude aprimorar técnicas de cartografia temática, análise estatística e revisão bibliográfica sobre o modo de produção do espaço, revelando como o modelo escravocrata/patrimonialista se perpetua na forma de segregação atual, tanto no campo quanto nas cidades.
    Mais recentemente, fui selecionado para um fellowship no Rights Lab, da University of Nottingham (Reino Unido), onde poderei aplicar a perspectiva decolonial e o ferramental de geoprocessamento que venho desenvolvendo para investigar transformações e produção da paisagem relacionadas a cadeias produtivas ilegais (desmatamento, exploração socioeconômica de populações vulneráveis, etc.). Desse modo, minha trajetória uniu formação acadêmica, atuação prática em consultorias e pesquisa interdisciplinar, sempre com o objetivo de denunciar as estruturas de poder que moldam a paisagem e propor soluções mais justas e sustentáveis para o território.

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    2. De que forma o PPGCiamb impactou ou tem impactado positivamente sua carreira acadêmica e/ou profissional?

    O PPGCiamb/UFT tem sido um divisor de águas na minha trajetória, pois aprofundou o modo como relaciono a pesquisa científica às questões socioambientais, reforçando uma abordagem mais abrangente e intersetorial. Antes mesmo de ingressar no Programa, eu já atuava em projetos de planejamento territorial e processos consultivos, mas foi por meio das disciplinas e do contato com docentes e colegas que ampliei a fundamentação teórica sobre desenvolvimento sustentável, conflitos socioambientais, biodiversidade e a aplicação de ferramentas avançadas de geoprocessamento.

    Posso destacar três grandes impactos que o PPGCiamb teve na minha formação e atuação profissional:

    1. Integração das dimensões socioambientais
    Eu já enxergava a necessidade de analisar problemas urbanos e rurais sem dissociar as questões sociais das ambientais, mas o PPGCiamb me ofereceu instrumentos conceituais mais robustos, vindos da ecologia política, da geografia crítica e dos estudos pós-coloniais, permitindo que eu interpretasse a dinâmica de uso do solo, a segregação e o acesso a recursos naturais de modo sistemático.

    2. Profundidade metodológica e uso de SIG
    Embora eu já trabalhasse com SIG e cartografia, no Programa tive a oportunidade de aprimorar técnicas de análise espacial, modelagem estatística e cartografia temática, aplicando-as a problemas como vulnerabilidade ambiental, planejamento de infraestruturas e gestão de recursos hídricos. Esse rigor metodológico fortaleceu meu desempenho em consultorias e na elaboração de diagnósticos socioambientais mais sólidos, embasados em dados científicos e leitura histórica.

    3. Interlocução acadêmica e abertura para cooperações
    O PPGCiamb tem um corpo docente e discente bastante heterogêneo, permitindo trocas riquíssimas com pessoas de diferentes formações: engenharias, ciências sociais, gestão ambiental, biologia, etc. Esse ambiente plural enriqueceu minha perspectiva sobre gestão do território e urbanização em áreas sensíveis (como a Amazônia Legal), bem como abriu caminhos para cooperações técnicas e intercâmbios, o que, em parte, impulsionou minha aceitação no fellowship do Rights Lab.
    Em síntese, o PPGCiamb me ajudou a consolidar uma visão crítica e interdisciplinar, integrando o domínio das ferramentas de geoprocessamento com uma leitura histórica das desigualdades socioeconômicas e ambientais. Isso se reflete diretamente na minha prática profissional, onde hoje consigo propor soluções urbanísticas, ambientais e de transformação da paisagem embasadas em dados empíricos e teorias socioambientais, reforçando a coerência entre pesquisa, diagnóstico e ação efetiva no território.

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    3. Qual o maior aprendizado que você leva do seu período no Programa?

    Sem dúvida, um dos maiores aprendizados obtidos no PPGCiamb foi compreender que o espaço urbano — e, por consequência, a paisagem que dele resulta — é um produto de relações históricas profundas, marcadas pela expropriação territorial, pela ausência de reformas estruturais e pela concentração de privilégios que ainda hoje define quem tem acesso a serviços básicos e quem permanece na marginalidade.

    No decorrer da minha pesquisa de dissertação, focalizada em cidades médias brasileiras (100 a 500 mil habitantes, sem conurbações), pude verificar, por meio de técnicas de geoprocessamento (SIG) e análises estatísticas, que as populações pretas e pardas continuam concentradas nos setores censitários com menor acesso à rede de esgoto, menor cobertura de saneamento básico e maior vulnerabilidade ambiental. Isso não é apenas um “desajuste pontual”: trata-se do legado colonial que, ao transitar de um regime escravocrata para o trabalho assalariado, manteve a estrutura de privilégios e colocou negros e mestiços em condições mais precárias de vida, perpetuando as desigualdades.

    Durante o período escravista, a terra e o trabalho escravizado estiveram no centro da acumulação de riqueza. Mesmo após a abolição formal, não houve reparação ou acesso à terra para os libertos, o que resultou num Brasil republicano em que as elites agrárias — agora urbanizadas — reforçaram seus privilégios e mantiveram as populações menos favorecidas sem oportunidades de ascender socialmente. Esse “mudar para manter exatamente igual” apenas vestiu novas roupagens no que antes era trabalho forçado, levando a um modelo de trabalho assalariado que, em vez de democratizar oportunidades, acentuou os conflitos raciais e projetou vulnerabilidades socioambientais nas periferias urbanas.

    A paisagem, nesse contexto, traduz a expressão cultural, social, econômica e ideológica de um território. Quando desenvolvo consultorias na área de transformação e produção da paisagem — seja na recuperação de áreas degradadas, em diagnósticos ambientais ou no planejamento urbano —, fica claro que essa paisagem reflete a desigualdade histórica. As regiões centrais recebem investimentos, enquanto as periferias ficam expostas à precariedade de serviços à ausência de saneamento e a condições de vulnerabilidade socioambiental. Assim, a paisagem urbana revela e reforça as sequelas de um passado/presente colonial, em que os herdeiros do poder mantêm controle sobre os melhores espaços e os grupos subalternizados arcam com a insuficiência de infraestrutura.
    Nesse sentido, apenas uma visão sistêmica e decolonial pode inaugurar caminhos de mudanças reais. É urgente “descolonizar o Estado”, pois as instituições ainda reproduzem o racismo estrutural fundado no latifúndio e na exclusão de populações negras, indígenas e ribeirinhas. Sem descolonizar as estruturas de poder — ou seja, sem romper com um modelo que privilegia sempre os mesmos grupos —, seguiremos fortalecendo a lógica de que existem “cidadãos de bem” e “marginais à parte”, mantendo intacto o fosso entre centro e periferia, entre brancos e não brancos, entre quem tem terra e quem não tem.

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    4. Por que você recomendaria o PPGCiamb para outras pessoas?

    Recomendo o PPGCiamb/UFT por ser um programa que consegue unir, de maneira orgânica, o conhecimento científico e a prática aplicada em questões de meio ambiente e desenvolvimento sustentável, tudo isso dentro de uma perspectiva socioambiental ampla e crítica. Eis alguns pontos que considero fundamentais:

    1. Enfoque Interdisciplinar e Flexível
    O PPGCiamb não se prende a visões unilaterais da “questão ambiental”: há sempre várias lentes em jogo — desde a ecologia política até as inovações tecnológicas em avaliações e estudos ambientais. A estrutura curricular contempla temas como biodiversidade, recursos naturais, sociedade, cultura, políticas públicas e, ao mesmo tempo, deixa espaço para que o aluno personalize sua trajetória de pesquisa.

    2. Inserção Estratégica na Amazônia Legal
    Estar na UFT significa ter contato direto com uma região estrategicamente importante. O Programa propicia experiências e estudos de caso reais, nos quais o pesquisador compreende de perto as dinâmicas entre economia, meio ambiente, populações tradicionais e urbanização.

    3. Corpo Docente Diversificado
    O PPGCiamb conta com professores de diversas áreas, o que assegura um diálogo constante entre saberes técnicos e sociais. Isso permite abordagens verdadeiramente multidisciplinares.

    4. Formação com Atuação Crítica
    O Programa estimula o questionamento das estruturas que produzem injustiças, incentivando publicações, redes colaborativas e participação em eventos científicos.

    5. Oportunidades de Crescimento Profissional
    As habilidades desenvolvidas no PPGCiamb são valorizadas em consultorias, ONGs, órgãos públicos e centros de pesquisa, inclusive internacionais.

    6. Ambiente de Pesquisa Colaborativo
    A convivência entre alunos e professores de formações diversas promove trocas ricas e a construção de projetos interdisciplinares.

    7. Compromisso com a Realidade Local e Global
    O Programa articula temas locais com agendas internacionais, preparando pesquisadores para atuar em diferentes escalas.

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    Trajetórias PPGCiamb

    Trajetórias PPGCiamb é uma série de entrevistas com professores, alunos e egressos do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente da Universidade Federal do Tocantins (PPGCiamb/UFT). A proposta é reunir relatos que ajudem a compreender o papel do Programa na formação acadêmica, na pesquisa e nas escolhas profissionais dos participantes, além de evidenciar os diferentes caminhos percorridos a partir da vivência na pós-graduação.

    A série busca também registrar a diversidade de atuações, pesquisas e contribuições dos professores, alunos e egressos nas áreas ambiental, científica, educacional, técnica e de gestão, dentro e fora do Tocantins.


    Tags:  PPGCiamb,  Coordenação de Internacionalização (Relinter),  IAC,  Arquitetura e Urbanismo.  
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