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Curso em Educação do Campo forma docentes multidisciplinares e promove igualdade e equidade social
No Câmpus de Arraias, distante 424 quilômetros de Palmas, na região Sudeste do Tocantins, foi implantado um curso de licenciatura em Educação do Campo, focado nas áreas de Artes Visuais e Música. O curso, que surgiu a partir de um edital específico do Ministério da Educação, visa formar professores multidisciplinares capazes de atuar nos anos finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio, especialmente em comunidades camponesas. Na região Sudeste, predominam comunidades afrodescendentes e quilombolas.
Criado em 2013 no Câmpus de Arraias, o curso é ofertado de forma integral na UFT e tem duração de oito semestres (quatro anos). A primeira turma - com 25 alunos - colou grau em 2018 (foto ao lado) e até hoje forma turmas de bons profissionais em Educação do Campo a cada ano, e que podem atuar tanto em escolas do campo, quanto em unidades urbanas que recebam estudantes oriundos do campo, bem como em processos de gestão escolar situadas em contextos socioculturais diversificados.
Em 2019 o curso foi avaliado pelo Ministério da Educação (MEC) com nota 5, que é a nota máxima atribuída pelo órgão. De acordo com o MEC, a nota representa que o curso tem alto nível, devendo ser visto como referência pelos demais nos aspectos relacionados ao ensino, a pesquisa, a extensão, a responsabilidade social, o desempenho dos alunos, a gestão e o corpo docente.
Segundo a coordenadora substituta, professora Sílvia Adriane Tavares de Moura, "o curso de Educação do Campo em suas especificidades e particularidades, representa um marco significativo na formação docente multidisciplinar dos povos do campo, bem como o fortalecimento interinstitucional entre a Universidade Federal do Tocantins, os Movimentos Sociais e a Educação Básica na região sudeste do Tocantins e nordeste goiano.
O processo de seleção para o curso de Educação do Campo também é diferenciado. De acordo com o pró-reitor de Graduação, professor Eduardo Cezari, isso ocorre "porque o curso de Educação do Campo têm um processo de divulgação diferente nas comunidades rurais, nas comunidades quilombolas, então precisamos ter um processo diferenciado", pontuou. O último processo seletivo ocorreu via Análise Curricular com disposição de 40 vagas nas modalidades de concorrência Reserva Legal de Vagas,Ações Afirmativas da UFT e Ampla Concorrência (AC).
Resultados e vitórias
O curso também apresenta outros resultados expressivos, como o alto índice de aprovação dos egressos em concursos municipais e estaduais na região. É o caso de Sinara Souza (foto) que foi a primeira egressa a obter aprovação na área da formação. Ela conta que a expectativa ao ingressar no curso era de obter aperfeiçoamento e vaga no mercado de trabalho. "No decorrer do curso me identifiquei em linhas gerais com a ementa, sobretudo as áreas pedagógicas, de Ciências Sociais e Humanas, visto que a Pedagogia é um conjunto de estratégias, métodos e técnicas de ensino, com o objetivo de entender a educação", pontua.
Logo após sua formação, Sinara participou de um concurso público na rede Estadual de Educação do estado de Goiás, o primeiro com vagas exclusivas para Educação do Campo. Fez a prova e foi aprovada. "Me senti lisonjeada em ser a primeira egressa a ocupar um cargo específico em Educação do Campo, e me manter em primeiro lugar em todas as etapas do concurso".
Hoje ela reside em Monte Alegre de Goiás (GO) e trabalha no Quilombo Kalunga.
Alternância Pedagógica
A formação oferecida nesta graduação busca não apenas ampliar a oferta de educação básica, mas também promover a igualdade e a equidade social, superando desigualdades educacionais históricas. A graduação é ofertada em sistema de alternância pedagógica, ou seja, os alunos ficam na Universidade por um período e noutro período nas próprias comunidades de origem, desenvolvendo pesquisas e outras atividades em conexão com a proposta do curso. Esses períodos têm o nome de Tempo Universidade e Tempo Comunidade, respectivamente.
A alternância pedagógica aproxima teoria e prática. Durante o Tempo Universidade, os alunos adquirem conhecimentos teóricos que são fundamentais para sua formação. No entanto, é no Tempo Comunidade que esses conhecimentos são aplicados diretamente nas realidades locais, fazendo com que os discentes vejam a relevância do que estão aprendendo e consigam relacionar isso com a própria vida e das comunidades. No Tempo Comunidade os alunos tornam-se protagonistas em suas comunidade, desenvolvendo habilidades de liderança, trabalho em equipe, identificam problemas e buscam soluções criativas, enriquecendo sua formação e os prepara para enfrentar desafios no futuro.
Ainda segundo a coordenação, as atividades do Tempo Universidade ocorrem nos meses de janeiro, fevereiro, julho e agosto, enquanto o Tempo Comunidade permite que os alunos discutam e reflitam sobre as realidades sociais que enfrentam. Esse tipo de metodologia objetiva preparar os futuros educadores para atuarem efetivamente nas necessidades específicas das comunidades camponesas.
Para a coordenadora substituta, "as atividades Tempo Comunidade se configuram em espaços socioprofissionais dos estudantes, para que possam discutir com a comunidade e colegas, refletir e levantar hipóteses, realizar atividades de ensino, pesquisa, extensão, práticas curriculares, tendo em vista a superação de necessidades sociais e precariedades em que vive uma significativa parte da classe trabalhadora do campo no Brasil", afirma.
Confira, na galeria abaixo, algumas imagens de projetos de extensão e de pesquisa desenvolvidos no curso:
Comemoração de 10 anos
No último mês de abril, o curso promoveu uma ampla programação para comemorar os 10 anos de implantação da graduação. Ocorreram, simultaneamente, quatro eventos: o IV Encontro Nacional de Educação do Campo, a III Semana de Educação Musical e Artes Visuais na Educação do Campo, o II Encontro da Escola da Terra e os 10 anos de Institucionalização da Educação do Campo no Sudeste do Tocantins - (Re)existências, lutas, conquistas e múltiplos olhares.
As atividades envolveram docentes, discentes, egressos e palestrantes de outras universidades na discussão das práticas de ensino, pesquisa e extensão relacionadas com a Educação do Campo. Confira, na galeria abaixo, uma seleção de imagens captadas duante as comemorações pela professora e fotógrafa Simone Mamede, do curso de Educação do Campo: