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Hoje, 24 de abril, é o Dia Nacional da Língua Brasileira de Sinais (Libras)
Há 11 anos, nesta data, era instituído pela Lei Federal nº 13.055/2014, o Dia Nacional da Língua Brasileiras de Sinais (Libras). A data é a mesma em que outra lei (Lei nº 10.436/2002) já havia reconhecido a Libras como meio legal de comunicação e expressão. No Brasil há, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de dez milhões de pessoas com algum tipo de necessidade auditiva ou surdez. No Tocantins, conforme dados de 2010 do Instituto, são 66,1 mil pessoas com deficiência auditiva e 15,2 mil com deficiência auditiva severa.
Visando atender e incluir este público também na educação superior, a Universidade Federal do Tocantins criou e autorizou o curso de Licenciatura em Letras-Libras em 2013 (via Resolução Consuni n.° 22/2013, de 19 de dezembro de 2013), no Câmpus da UFT em Porto Nacional. A graduação tem reconhecimento do Ministério da Educação (MEC) (Portaria MEC n.º 856 de 10/08/2021. DOU de 13/08/2021, S. 1, p. 27.) e, atualmente conta com 46 discentes matriculados.
O professor Vinícius Hidalgo, que também é surdo, foi eleito coordenador do curso para o próximo biênio. Em entrevista à Redação da Sucom, ele enfatizou a pretensão de realizar campanhas de divulgação do curso por meio de mídias sociais, também via comunicação institucional da UFT e outros, "visando atingir não só estudantes da região, mas também do Brasil como um todo. Ainda, na medida do possível, (pretendemos) realizar visitas em escolas de nível médio, apresentando o curso aos estudantes do último ano", disse o coordenador.
Hidalgo relata que são raros os calouros que chegam ao curso com alguma fluência em Libras. "Existe um número significativo de novos alunos que sabem apenas o básico, como por exemplo, o alfabeto manual e alguns sinais simples como os sinais 'oi', 'bom dia' etc., e, o restante, desconhece completamente a língua", mas acredita que a realização de cursos de extensão e encontros para as comunidades podem ajudar a dar mais visibilidade à língua e, consequentemente, divulgar o curso e sua importância para a comunicação entre as culturas surda e ouvinte.
Outra professora do curso, Gabriela Otaviani, que também é surda, discorreu sobre sua experiência dando aulas no curso em Porto Nacional, destacando o desenvolvimento dos alunos já a partir da entrada na licenciatura. "O curso tem como objetivo estimular os estudantes a aprender a Língua Brasileira de Sinais (Libras), promovendo a comunicação com pessoas surdas, compreendendo as regras e a gramática dessa língua, bem como buscando conhecimentos teóricos e práticos aplicáveis aos contextos sociais, escolares e linguísticos da comunidade surda", diz a professora
Ela ressaltou que a graduação também incentiva o respeito às diversidades sociais e culturais da população surda, abrangendo os diferentes contextos existentes, como áreas urbanas, rurais, indígenas, vilas, entre outros, o que valoriza a vivência humana. "Observamos, por meio dos professores, que tanto alunos surdos como primeira língua (L1) quanto ouvintes como segunda língua (L2) demonstram, ao longo dos quatro anos de curso, uma significativa evolução no processo de aprendizagem, fruto de muito esforço, especialmente no domínio da língua e da cultura visual", destaca.
Mercado de trabalho
A professora Gabriela disse ainda que a inserção dos formados no mercado de trabalho é positiva, tendo em vista "a visibilidade da língua de uma minoria — o povo surdo — que a utiliza diariamente na comunicação visual, em todos os níveis de fluência".
Desde 2022, as disciplinas passaram a ser ofertadas em escolas públicas e privadas, no âmbito da educação básica, em diversos municípios tocantinenses. "Essa iniciativa tornou-se um modelo relevante de proposta para a formação de professores no ensino de Libras no Brasil. Outros estados podem se inspirar nesse exemplo, cujo objetivo principal é promover o respeito à diversidade, às culturas e às identidades surdas", disse a docente, que ressalta o quão isto é novo para os docentes da Libras, o que os faz aprender novas estratégias para enfrentar os desafios diários da Educação.
Para a docente, a população do Tocantins tem sido positivamente impactada pelos alunos surdos e bilingues do curso de Letras-Libras. "Eles demonstram grande vontade de aprender, empenho para aprimorar a fluência na Língua, coragem para atuar no mercado de trabalho com respeito, consciência e responsabilidade. Esse é o compromisso que nós, pessoas surdas, assumimos: lutar por uma educação transformadora, que valorize nossas identidades e promova inclusão verdadeira", finaliza.
(*) Arthur Regino Quixabeira é estudante do curso de Jornalismo e cumpre estágio obrigatório na Sucom