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Quem matou Odete Roitman?
A pergunta “Quem matou Odete Roitman?” é apenas um pretexto para discutir um enigma ainda mais profundo: o dilema científico de aceitar ou rejeitar a hipótese nula (Ho). Assim como uma juíza diante de um crime sem provas conclusivas, a pesquisadora também precisa decidir se rejeita a inocência de uma hipótese — e corre o risco de condenar injustamente uma ideia verdadeira — ou se a mantém, deixando talvez escapar uma descoberta importante.
No campo da estatística, chamamos de erro tipo I o ato de rejeitar a hipótese nula quando ela é verdadeira — condenar uma inocente. Já o erro tipo II ocorre ao não rejeitar uma hipótese falsa — absolver uma culpada. Em termos éticos, é mais justo não condenar uma inocente, ainda que algumas culpadas fiquem livres. No entanto, a ciência moderna, movida pelo produtivismo e pela ideologia do progresso, frequentemente inverte essa lógica. O cientificismo, travestido de neutralidade, prefere arriscar o erro tipo II em nome da inovação, acreditando que toda novidade tecnológica é, até que se prove o contrário, essencialmente positiva para o progresso.
Essa crença, fruto do fetiche tecnológico, faz com que a precaução seja substituída pelo otimismo. Assim, agrotóxicos, transgênicos, aditivos e edulcorantes são liberados sob o argumento de que “não há provas suficientes de dano”, ignorando que “a ausência de evidência não é evidência de ausência”. O dilema da juíza, portanto, repete-se na pesquisadora: é mais prudente proteger a vida diante da incerteza do que entregar-se à lógica de que o desenvolvimento justifica o risco.
Como lembram as críticas ao paradigma moderno, o verdadeiro progresso deveria reconhecer a dialética entre produção e destruição, e não mascará-la sob o manto da eficiência científica. Rejeitar o cientificismo é, afinal, afirmar o direito à dúvida e à cautela, antes que seja tarde demais.
Se minha “isca” foi boa, você verificou que todo o texto foi escrito no feminino, pois se refere a pessoas, e na língua portuguesa o masculino foi historicamente tomado como universal.
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Sobre o autor
José Gerley Díaz Castro é doutor em Biologia pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia; Professor titular da UFT, Câmpus de Palmas, no curso de Nutrição e no Programa de Pós-Graduação Profissional em Ciências da Saúde (PPGCS).
E-mail: diazcastro@uft.edu.br.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/7437848258885562
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