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COP30: Mulheres indígenas ecoam um grito coletivo por resistência e proteção da Amazônia
A realização da COP30 pela primeira vez na Amazônia, a maior floresta tropical do planeta, representou um marco simbólico e político. Como mulher indígena do povo Javaé (Ilha do Bananal) e estudante de Psicologia da Universidade Federal do Tocantins, Câmpus de Miracema, estive presente entre 12 e 17 de novembro de 2025 reafirmando que nós indígenas não somos apenas receptores de conhecimentos, também somos transmissores de conhecimento tradicional e protagonistas essenciais nas decisões climáticas globais.
Participei do desfile “Reflorestando a Moda”, representando a “Saúde Mental das Mulheres Indígenas do Brasil”, ecoamos o clamor por demarcação de terras, justiça ambiental e preservação da floresta, através de cada representatividade. A COP30 possibilitou um diálogo enriquecedor entre ciência e sabedoria ancestral: levamos nossos saberes tradicionais, fortalecemos identidades coletivas e reafirmamos nosso papel como guardiãs da memória, da natureza e da vida.
A crise climática provoca perdas ambientais e gera traumas, sofrimento psíquico e ameaça o bem-estar das pessoas. Por isso, a luta pela Amazônia é também uma luta pela saúde mental e pela dignidade dos povos originários. Na Marcha Global por Justiça Climática e na Cúpula dos Povos, em espaços como a Casa Maraká e a Aldeia COP30 movimentos sociais, povos tradicionais, estudantes e mulheres indígenas apresentaram propostas, artes, oficinas e debates.
Por que estudantes indígenas na COP30?
Quando a floresta sofre, os povos originários também adoecem de forma física, cultural e psicológica. E a presença de alunos indígenas na universidade reflete diretamente as mudanças climáticas. Poluição dos rios, desmatamento e mudanças territoriais ameaçam modos de vida e a permanência de estudantes indígenas nos espaços acadêmicos. Ficou clara a urgência de colocar os povos da floresta no centro das decisões. Mesmo com o anúncio de homologação de quatro terras indígenas durante a COP30 e diversas portarias declaratórias, sabemos que reconhecimento formal não basta: é preciso implementar a proteção, garantir direitos e resistir às pressões do agronegócio, mineração e desmatamento.
As universidades têm papel estratégico neste processo: ao integrar pesquisa acadêmica e saberes ancestrais, podem fortalecer a bioeconomia, a transição energética e a justiça socioambiental. A participação estudantil indígena reafirma a cidadania, aproxima ciência e territórios tradicionais e fortalece a luta por um futuro sustentável. Proteger os territórios indígenas é proteger os maiores estoques de biodiversidade e carbono do planeta e garantir a memória cultural, os direitos humanos e a sobrevivência das gerações futuras. Como mulheres indígenas, seguimos afirmando: a resposta somos nós. Nossa luta é coletiva, e nossa defesa da floresta é defesa da vida.
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