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Ourivesaria de Natividade é reconhecida e registrada no Iphan como Patrimônio Cultural do Brasil
A ourivesaria da cidade tocantinense de Natividade (TO) foi reconhecida como Patrimônio Cultural do Brasil, na 111ª Reunião Ordinária do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A arte é um bem cultural definido pela produção e uso de um conjunto de joias artesanais - feitas com ouro e prata extraídos da própria região - como crucifixos, colares, cordões, gargantilhas, brincos, pingentes, pulseiras e anéis.
Para a confecção das joias, são empregadas distintas técnicas, sendo a filigrana a mais valorizada. Trata-se de um delicado entrelaçado de hastes finas de ouro, algumas com a espessura de um fio de cabelo, com laterais serrilhadas, técnica cujas raízes remontam à região do Minho, em Portugal, e que se aclimataram ao território do atual estado do Tocantins durante o período colonial, com a chegada de artesãos que aqui se fixaram.
O dossiê de registro ressalta que a ourivesaria de Natividade emerge como um bem cultural que vai além da simples confecção de joias de ouro e prata. Seu valor reside na sua capacidade de sintetizar técnicas artesanais, história e identidade local, refletindo as complexas relações entre tradição, fé, arte e memória elaboradas historicamente em território tocantinense.
O presidente do Iphan, Leandro Grass, destacou a relação da ourivesaria com a história da cidade e com o trabalho da população negra, inclusive dos quilombos. “Ao longo de gerações os ourives de Natividade têm preservado e inovado nas técnicas e hoje se tem um patamar artístico único no Brasil”. Para o superintendente do Iphan no Tocantins, Danilo Curado, o reconhecimento reverbera as transformações sociais e culturais do interior do Brasil central. “A cultura do Brasil profundo ganha reconhecimento nacional e, a partir disso todo o país vai conhecer esta arte, além do reconhecimento ao trabalho destas pessoas” destacou.
As joias nativitanas, em especial aquelas com inspiração nas formas e símbolos da natureza brasileira (como a flor do maracujá) e nas manifestações religiosas (como os corações nativos e os diversos símbolos cristãos) são peças carregadas de significados, não apenas no plano material, mas também no simbólico e no social. Elas permeiam o cotidiano e as festividades religiosas, sendo um dos pilares da identidade cultural da comunidade nativitana e de outros municípios do sudeste tocantinense.
Segundo o parecerista Nelson Fernando Inocencio, membro do Conselho, o resultado desse trabalho são peças carregadas de significados não apenas no plano material, mas também simbólico e social. “A continuidade e revitalização do ofício, com o apoio de iniciativas comunitárias garantem que essa ourivesaria permaneça viva, transmitida para novas gerações de artesãos de diferentes extrações sociais, raciais e de gênero e continue a gerar desenvolvimento na região, contribuindo para a redução das desigualdades”, concluiu.
Acolhimento e resiliência
A coordenadora do trabalho que gerou o Dossiê de Registro do bem cultural Ourivesaria de Natividade, a professora Noeci Carvalho Messias, do curso de Teatro da UFT, comemorou o reconhecimento pelo Iphan destacando o acolhimento da sociedade nativitana e sua resiliência em preservar a tradição por tantos anos.
Foi uma honra e um privilégio coordenar uma belíssima pesquisa de elaboração do Dossiê de Registro do bem cultural Ourivesaria de Natividade; uma parceria entre o Iphan/TO e UFT que resultou no merecido reconhecimento desse bem cultural como patrimônio imaterial do Brasil. Esse reconhecimento é uma etapa importantíssima para a sua valorização que deve garantir, para o futuro, políticas de salvaguarda eficazes e duradoras dessa tradição nativitana. O registro da Ourivesaria Artesanal de Natividade no Livro de Saberes do Iphan é muitíssimo importante para o estado do Tocantins, visto que é o reconhecimento máximo do estado brasileiro para com o patrimônio cultural do nosso estado; esse título irá proporcionará maior notoriedade do Tocantins, Brasil e mundo. Agradeço demais a comunidade nativitana pelo acolhimento e por carregar esta tradição por longa data; às instituições parceiras que apoiaram o trabalho de pesquisa (Secretaria Municipal de Turismo e Cultura, Secretaria Municipal de Assistência Social, ASCCUNA, da empresa Simone de Natividade e Escritório Azul Contabilidade). Do mesmo modo, sou agradecida pela excelente equipe de pesquisadores.
Abaixo é possivel conferir uma galeria de fotos da reunião, no Iphan, onde ocorreu o reconhecimento. As imagens são da fotógrafa Mariana Alves, do Iphan.