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    Belém e a COP30: onde a floresta fala e o mundo hesita em ouvir
    PONTO DE VISTA

    Belém e a COP30: onde a floresta fala e o mundo hesita em ouvir

    A autora discorre sobre a COP30 em Belém, destacando a relação entre ciência, saberes tradicionais e a urgência climática na Amazônia e no mundo

    Por  Viviane Leal e | Revisão: Paulo Aires  | Publicado em 26/11/2025 - 14:12  | Atualizado em 02/12/2025 - 12:46
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    Participar da COP30, em Belém, foi mais do que presenciar uma conferência global, foi viver um território onde a floresta fala, o rio ensina e as pessoas resistem. Fui esperando discursos protocolares sobre metas climáticas, mas encontrei algo que extrapolava o evento: uma cidade viva, transformada em laboratório de ciência, arte e pertencimento. Em cada espaço da Casa da Ciência do MCTI no museu Emilio Goeldi, Aldeia COP ao Freezone e os outros espaços, onde cultura e sustentabilidade se entrelaçavam, havia um convite à escuta. Belém pulsava como uma síntese do que o mundo tenta aprender: coexistir.

    O mapa do caminho para mitigar os efeitos climáticos segue, ainda, na direção contrária à urgência de abandonar os combustíveis fósseis. Diante disso é fundamental que as negociações internacionais se sustentem em evidências científicas atualizadas e que essas orientações sirvam, de fato, para elevar o nível de ambição da ação climática. Existe uma relação direta entre conhecimento e comprometimento: enquanto a ciência alerta sobre o colapso dos limites planetários e o risco de ultrapassar 1,5 °C, grande parte da população mundial ainda desconhece o que isso significa. Essa desconexão entre informação e ação é um dos maiores desafios contemporâneos, pois sem alfabetização climática, não há engajamento político capaz de transformar a realidade.

    A vivência amazônica revelou que sustentabilidade não é uma palavra de relatório, mas uma prática cotidiana. Nas mãos de quem trançava palhas e sementes, percebi uma pedagogia silenciosa, a de que a floresta não é recurso, é relação. O senhor no açaizeiro, a artista que transforma folhas em luminárias, os jovens que discutiam meio ambiente nos espaços alternativos da COP, todos traduziam, com gestos simples, a urgência que os discursos oficiais tentavam racionalizar. Foi ali que percebi que a educação ambiental precisa nascer do encontro entre o saber científico e os saberes tradicionais.

    Todavia, essa vivência dissonou do teor objetivo presente nos documentos finais. O chamado Pacote de Belém, com 29 decisões, trouxe avanços tímidos diante da urgência climática. A promessa de triplicar os recursos para adaptação até 2035 é importante, mas carece de mecanismos concretos de implementação (Carbonbrief, 2025). O silêncio sobre a eliminação dos combustíveis fósseis e o combate efetivo ao desmatamento revela o quanto o debate climático ainda é refém de interesses econômicos e geopolíticos (Agência Brasil, 2025).

    Mesmo assim, a COP30 teve um mérito simbólico: devolveu voz à sociedade civil. As manifestações indígenas, os espaços colaborativos e as feiras populares mostraram que o protagonismo do futuro talvez não esteja nos gabinetes, mas nas margens. A crise climática e a crise urbana se cruzam, e a Amazônia é o espelho dessas interdependências: sem justiça social, não haverá sustentabilidade possível. Voltei de Belém com o sentimento de que o verdadeiro mutirão global começa no território, quando a ciência aprende a dialogar com quem habita a floresta e entende que proteger o planeta é também reparar desigualdades. A COP30 foi, para mim, um chamado à coerência: ouvir as vozes que há séculos cuidam do que o mundo agora tenta salvar.

    Por fim, essa imagem com o Embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30 no Brasil, acolhe um bebê da etnia Munduruku durante as atividades da Conferência do Clima em Belém (PA). A cena simboliza o encontro entre gerações e a necessidade de uma escuta sensível nas políticas climáticas, um gesto que traduz, em imagem, o que a COP30 representou: a urgência de reconhecer a vida como centro das decisões globais.

    O presidente da COP 30, André Correa do Lago conversa com indígenas da etnia Munduruku. Foto de Felipe Werneck/COP30
    O presidente da COP 30, André Correa do Lago conversa com indígenas da etnia Munduruku. Foto de Felipe Werneck/COP30

    Referências

    AGÊNCIA BRASIL. COP30: acordo climático deixa de fora combustíveis fósseis. Brasília, 24 nov. 2025. Disponível em: <https://agenciabrasil.ebc.com.br/meio-ambiente/noticia/2025-11/cop30-acordo-climatico-deixa-de-fora-combustiveis-fosseis>. Acesso em: 26 nov. 2025.

    CARBONBRIEF. COP30: key outcomes for food, forests, land and nature at the UN climate talks in Belém. Londres, 26 nov. 2025. Disponível em: <https://www.carbonbrief.org/cop30-key-outcomes-for-food-forests-land-and-nature-at-the-un-climate-talks-in-belem/>. Acesso em: 26 nov. 2025.

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    Sobre o autor

    Viviane de Araújo Leal

    Viviane de Araújo Leal, doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional PPGDR, professora da Universidade Estadual do Tocantins (Unitins). Atua como coordenadora de extensão no curso de Tecnologia e Gestão do Agronegócio – TGA do Projeto TO Graduado, voltado à sustentabilidade. Participou da COP30, em Belém, representando a educação ambiental e tecnológica da Instituição.

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