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UFT sedia fórum científico internacional de cardiologia
Teve início nesta quinta-feira (16) e segue até sábado (18) no Auditório Cuíca do Câmpus de Palmas da Universidade Federal do Tocantins (UFT) o 31° Congresso Internacional de Ciências Cardiovasculares. O fórum científico promovido pela International Academy of Cardiovascular Sciences (IACS) reúne especialistas de diferentes países, presencialmente e online - com transmissão ao vivo - e acontece de forma simultânea ao XVII Congresso Tocantinense de Cardiologia e a 23ª Reunião Anual da Seção Sul-Americana da Academia Internacional de Ciências Cardiovasculares.
Os eventos têm como objetivo promover troca de conhecimentos, inovação e integração profissional. "É sempre muito importante a gente divulgar 'informação de verdade' para os médicos e para as pessoas que fazem parte da equipe multidisciplinar da saúde. Isso é muito bom para ampliar o acesso às novas condutas sobre diversos temas de interesse de saúde pública que nos permitem melhorar o atendimento aos pacientes", disse Daniel Janczuk, presidente da Seção do Tocantins da Sociedade Brasileira de Cardiologia (Soceto) - e um dos palestrantes da primeira manhã do evento, na mesa-redonda sobre terapias duvidosas populares e "instagramáveis".
"Isso é um perigo. A gente tem visto muito o que a gente chama de 'portadores de CRM' prescrevendo o uso de esteroides anabolizantes derivados de testosterona para a população, como se isso fosse fonte de saúde. Mas isso não melhora a saúde. Isso pode piorar a chance de ter doenças cardíacas, de ter infarto e outros problemas como trombose, arritmia, câncer hepático, doença renal... Você tem um aumento de performance, fica com 'shape', um corpo melhor, mas por dentro vai ter diversas doenças, inclusive psquiátricas. Isso não faz bem para saúde, é uma droga que vicia e faz muito mal", disse ele, fazendo um alerta sobre o uso massificado dos chamados "chips da beleza", implantes e outras formas de prescrição hormonal.
Erica Teixeira também falou sobre implicações cardiovasculares de terapias hormonais. "Nós temos visto em larga escala o uso de esteroides anabolizantes vendidos no mercado muitas vezes com nomes 'disfarçados' para fins recreativos, estéticos ou de aumento da performance. Você vai ao médico e diz que está 'cansado', como todo mundo, e ele logo diz que 'precisa dar um jeito nos seus hormônios'. Nós temos visto muitos 'cursinhos de hormônios' que primeiro extorquem os médicos e depois ensinam como extorquir os pacientes em casos que não haveria necessidade de reposição", alertou ela, desaconselhando o uso suprafisiológico de hormônios que pode estar associado a um aumento de casos de infarto, arritmia e insuficiência cardíaca, e a um maior risco cardiovascular em geral.
Outro tema discutido na primeira manhã do evento foi a adoção de estratégias invasivas (cirúrgicas) ou conservadoras no tratamento cardiovascular de idosos frágeis. A palestrante Elyanne Gomes apresentou estudo que demonstra que, embora intervenções invasivas não tenham reduzido a mortalidade dos pacientes nessas condições, essa abordagem pode reduzir a incidência de episódios isquêmicos e necessidade de revascularização com razoável segurança.
Adalgele Rodrigues Blois abordou a vacinação relacionada à cardiologia, e chamou a atenção para a redução alarmante da cobertura vacinal no país. "Vários fatores têm provocado isso e nós precisamos reverter esse quadro começando pelos próprios médicos e pela nossa atitude no consultório. Nós ouvimos muito que a vacina da Covid estaria provocando mortes, mas a verdade é que a vacinação previne doenças que podem causar diversas complicações, como infecções respiratórias que podem ser gatilhos para complicações cardiovasculares", afirmou.
Numa abordagem sobre "salutogênese", a palestrante Elaine da Costa destacou a importância de se pensar na origem da saúde e nos fatores que a promovem, em contraste com a perspectiva que foca nas causas das doenças (patogênese), buscando compreender a capacidade inerente das pessoas de se manterem saudáveis. "Educação é um dos fatores determinantes para a saúde. Saúde se aprende, e a educação é que cura. Ter saúde é ser humano plenamente. Nós somos mais sadios quanto mais humanos nós formos."
O pesquisador e professor da UFT, Raphael Sanzio Pimenta, falou sobre saberes tradicionais e a ciência formal. "Eu quis trazer para esse evento uma apresentação que inspirasse os estudantes de hoje a produzirem pesquisas, a se dedicarem à extensão. E que trouxesse esse olhar para a importância de valorizarmos os conhecimentos das comunidades tradicionais. É claro que os saberes ancestrais têm falhas. Mas a ciência formal também não comete equívocos?", questionou ele, ressaltando a importância de ensinamentos transmitidos de geração em geração.
A programação completa do Congresso internacional e eventos correlatos, que inclui painéis, mesas-redondas e exposições, está disponível no site.