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Como o rádio moldou a memória de Porto Nacional
Já está disponível o livro Frequências da Memória: O rádio e a cidade de Porto Nacional (1968–2002), de Marcelo Alessandro Honorato de Souza e Jocyleia Santana dos Santos. A obra propõe uma escuta sensível da história da cidade por meio das ondas do rádio, reunindo narrativas, documentos, vozes e silêncios que marcaram a trajetória da radiodifusão em Porto Nacional entre as décadas de 1960 e 2000.
O livro não se limita a um levantamento técnico ou cronológico das emissoras locais. Ele percorre afetos, práticas e ritmos que moldaram o cotidiano urbano, posicionando o rádio como tecnologia do afeto e patrimônio imaterial. Com base em entrevistas, arquivos sonoros, documentos e memórias de locutores e ouvintes, os autores constroem uma narrativa que revela o papel central do rádio na formação da identidade cultural da cidade.
Dividido em cinco partes, o trabalho percorre desde o encantamento infantil com a voz que vinha do aparelho até a consolidação das emissoras locais e sua influência sobre a vida comunitária. A pesquisa situa Porto Nacional no contexto da radiodifusão brasileira e do norte goiano, destacando como as rádios AM e FM ajudaram a organizar cotidianos, mediar relações sociais e afirmar o sentimento de pertencimento regional.
A coautoria de Jocyleia Santana dos Santos, professora e pesquisadora reconhecida na área da comunicação e educação na Amazônia Legal, reforça a densidade crítica e afetiva da obra. Autora de A sedução da imagem: a televisão no limiar do Tocantins, Jocyleia já havia investigado a influência da TV na formação do imaginário tocantinense. Agora, em parceria com Marcelo Honorato, volta-se ao rádio como campo de escuta, memória e resistência.
Frequências da Memória convida o leitor a ouvir a cidade como quem ouve um velho amigo. Cada jingle, cada boletim escolar, cada oração transmitida revela fragmentos da vida coletiva, marcados pela força da palavra falada e pela partilha do som. Mais do que reconstituir um passado, o livro busca garantir que essas vozes continuem a ecoar.
A publicação se destaca como uma contribuição significativa aos campos da comunicação, da história oral, da memória e da educação. Ao dar centralidade à escuta, os autores relembram que, em tempos de ruído e silêncios impostos, ouvir — e escrever sobre o que se ouve — é um ato de cuidado com o que fomos e com o que ainda podemos ser.